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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A ditadura, a democracia e os presos políticos

Por Eder Nunes de Souza – 4° ano de História (FFLCH – USP)
Após os anos tristes da ditadura, em 1988, com a elaboração da constituição, o Brasil volta a ser uma democracia. Fruto da luta de muitos, onde houveram vários que tiveram suas vidas tomadas por resistir à ditadura, ela inaugura um novo momento da nação brasileira. A constituição, apesar de ter enterrado (esperamos que para sempre) a ditadura, não eliminou vários dos problemas brasileiros, e em certos casos, durante esses 23 anos de democracia, vimos outros se acentuarem. Mas devemos ter em mente que a democracia não é perfeita, como nenhuma instituição humana o é, e provavelmente, não será. Sabemos que a sociedade é ainda muito intolerante e conservadora em muitos pontos, e temos muitas questões a debater e situações a transformar neste país.
Mas a democracia é construída no diálogo e no embate de ideias, e apesar dos defeitos e das distorções, ele permite os diferentes terem voz ou canais de se expressar. Não podemos ignorar que, por ainda precário e imperfeito que seja o estágio de relativa liberdade em qual vivemos, muitos tiveram que dar suas vidas e tiveram suas vidas atormentadas, e temos que ter respeito profundo por essas pessoas.
Como cientistas, devemos ter carinho especial por conceitos e termos, até mesmo para fazermos uma crítica razoável e fundamentada à realidade na qual vivemos, devemos dominar bem termos e conceitos. Por isso, acho inaceitável e um desrespeito tremendo com aqueles que no passado derramaram sangue pela liberdade que digamos que o invasores presos são presos políticos. Vamos definir o que é um preso político. 
Preso político é aquele que, por possuir ideais e ideologias diferentes ou antagônicas da que o Estado é fundamentado, é perseguido, preso, torturado, morto ou exilado para que sua voz destoante seja calada. Não lhe é dado nenhum mecanismo de expressar suas ideias, seus escritos e jornais do grupo ou partido que pertence são perseguidos e obrigados a viver na clandestinidade. Exemplo moderno é o blog de Yoani Sanchez, a cubana perseguida pelo regime de Fidel ou os presos políticos chineses e da Coreia do Norte. Suas reuniões são proibidas e a todo o tempo eles, apenas por pensar e ousar tentar se manifestar, tem o cutelo da morte a todo o momento sobre suas cabeças, e a qualquer momento, ele pode decepá-los. Essa é a realidade do preso político.
No caso dos invasores, não se vê nada disso acontecendo. Não foram perseguidos em nenhum momento por causa de seu pensamento de esquerda, sempre puderam divulgar e debater sobre o que acreditam, mesmo com a PM no campus. Nenhuma aula foi invadida para impedir que conteúdo marxista fosse divulgado ou ministrado, nenhum professor desapareceu por manifestar ideias esquerdistas ou direitistas, os jornais do PCO, por mais ridículos que sejam, circulam normalmente pelo campus e nenhuma manifestação de esquerda ou contra a PM foi reprimida. 
O que se viu não foram jovens que lutavam para se expressar porque o Estado não lhes oferece mecanismos de expressão, não estavam ameaçados de morrer por pensar diferente ou algo do gênero. Vimos pessoas que, passando por cima mesmo doas decisões do forum que consideram legítimo, a tal assembleia estudantil, decidiram invadir um prédio público e depredá-lo. Vimos que os invasores não permitiram que ninguém filmasse ou fotografasse o que estava acontecendo lá dentro, vimos jovens agredindo cinegrafistas, membro da classe trabalhadora que dizem defender, e vimos jovens que, quando a reitoria tentou negociar com eles a desocupação do prédio, claramente não estava dispostos a negociar, mas si a impor suas pautas. Quem quer negociar procura chegar em um termo comum, não condiciona a negociar apenas se todas as suas reivindicações forem contempladas. Isso não é negociação, é imposição, e quando não há desejo de ceder em algum ponto de alguma das partes, é impossível haver negociação.
Quando se acabaram os recursos diplomáticos, o uso da força se fez necessário, e foi feito de maneira branda. Não houve ninguém ferido, ninguém foi torturado, ninguém desapareceu misteriosamente, ninguém teve risco de ter sua vida extinguida. Portanto, tenham maior cuidado e respeito ao brincar com termos, conceitos e a realidade do que é ditadura. É vergonhoso para aqueles que tombaram no passado contra a opressão, a verdadeira opressão, e os que no presente também continuam a verter sangue para simplesmente poder dizer o que pensam. No Oriente Médio, a Primavera Árabe é exemplo claro. 
Isso não significa que na democracia não temos o porque lutar. Temos muitas questões a serem resolvidas, principalmente no Brasil. Temos uma saúde pública de péssima qualidade, a educação é a segunda pior da América Latina, ganhando apenas da Nicarágua, uma distribuição de renda das mais desiguais do mundo e uma corrupção endêmica, que afeta todo o nosso sistema político. Mas hoje é possível levantar tais questões e se manifestar por elas e buscar soluções para as mesmas dentro do jogo democrático, sem haver uma perseguição estatal para assassinar, exilar os discordantes. Sabemos que ainda há abusos de autoridade, principalmente da polícia, e que há questões sérias no Brasil em relação a direitos humanos e sociais. Mas esses problemas se resolvem com o aperfeiçoamento da democracia, com o desenvolvimento do senso crítico da população, que só pode ser desenvolvido em um regime democrático e livre, com o fortalecimento de nossas instituições, fazendo-as se voltar cada vez mais para a busca do bem público. 
Cuidemos e aperfeiçoemos a nossa democracia, não deixemos de ter consciência do que conquistamos e do que devemos conquistar como sociedade. Para isso, o conhecimento do passado é fundamental, e saber o que significa uma ditadura e um preso político também. Essa é a melhor forma de nos preservarmos de falácias e engôdos para construirmos uma sociedade mais livre.

http://estudantesusp.wordpress.com/2011/11/20/a-ditadura-a-democracia-e-os-presos-politicos/ 

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