PCdoB debate libertação da mulher para a luta pelo socialismo
A luta pela emancipação das mulheres é estratégia. Estratégica para trazer a mulher para luta pela libertação da humanidade de todo tipo de opressão, que atinge homens e mulheres. A avaliação foi feita pela presidente do PCdoB do Rio de Janeiro, Ana Rocha, na primeira mesa de debate da 2ª Conferência Nacional do PCdoB sobre a Emancipação da Mulher, neste sábado (19), em Brasília.
Leonardo Brito
Ana Rocha quer reflexão profunda sobre problemas reais no cotidiano da mulher.
"Queremos ser felizes, já passamos do feminismo primitivo que queria lutar contra os homens. O feminismo atual sabe que os homens são instrumentos, mas a causa está na sociedade. Queremos ser felizes e queremos os nossos homens também felizes”, afirmou.Ela disse que concorda com a escritora francesa Simone de Beauvoir em sua autocrítica, que disse que quando escreveu “O Segundo Sexo”, ela acreditava que a emancipação da mulher só se daria no futuro socialista, mas que depois percebeu que temos que mudar estrutura de opressão que envolve homens e mulheres, mas temos que enfrentar desde já a opressão da mulher.
Ana Rocha enfatizou a opinião de que “os socialistas entraram nessa armadilha. A visão era trazer a mulher para a luta pelo socialismo, deixando de ver as questões que impediam a mulher de vir para luta”.
Segundo ela, “essa questão exige uma reflexão em profundidade porque existem problemas reais no cotidiano da mulher que a impede de exercer a economia e a política. Sua sobrecarga não dá a ela tempo e nem condições de disponibilidade para isso, esse tempo e disponibilidade que o homem tem”.
Armadilha capitalista
Para ela, “sem esquecer a radicalidade para superar todo tipo de opressão, é importante se preocupar, desde já, com os entraves que impedem as mulheres de liberar suas energias para a felicidade e construção das mudanças. A transição sob o ponto de vista econômico não pode esquecer de transpor os conceitos culturais plantados secularmente de opressão às mulheres”.
A avaliação é que “o poder de mudar passa por saber as origens da opressão e enfrentar a dialética do tempo, aqui e agora. A mulher tem defasagem, o que traz o dever de capacitar a mulher para a luta. A mulher atual é provedora e cuidadora. Mas, se ela faz o cuidado de graça, já é um favor lhe dar um salário. Essas armadilhas precisam ser desvendadas”, alerta Ana Rocha.
Ela critica o sistema capitalista que se utiliza do mecanismo ardiloso que é o fato do cuidado dos filhos ser prazeroso, mas que faz a mulher perder o espaço na sociedade. “O capitalismo usa a política de cuidado para sobrecarregar a mulher com atribuições que devem ser da sociedade. Ninguém pergunta por que uma mulher joga um filho no lixo, apenas critica, sem considerar que a sociedade é cruel com a mulher”, disse Ana Rocha.
Autora das mudanças
No modelo atual, as mulheres são o elo mais fraco, por isso ela tem que se movimentar para promover as mudanças. Elas têm que ser autoras dessas transformações. E as mudanças envolvem o processo coletivo e social, mudanças na forma de pensar e de agir e superação do sistema capitalista.
Ela lembrou ainda que se as pesquisas demonstram que a mulher jovem, negra e pobre é a mais atingida pela opressão, a luta emancipacionista deve ter corte de classe, etnia e faixa etária.
O sistema capitalista no modelo neoliberal é um atraso para a luta das mulheres, por isso a líder comunista comemora o fato de estarmos no Brasil, onde os governos dos últimos anos têm garantido políticas públicas para as mulheres. “Dilma nesse caso, no Brasil, é um avanço porque tem passado progressistas e está determinada a enfrentar pobreza, embora esteja limitada pelo modelo capitalista”, avalia.
“Uma série de ações, como Luz para Todos, salário mínimo, tudo isso ajuda a mulher e temos que nos agarrar a eles”, afirma Ana Rocha, explicando que na luta pela libertação das mulheres deve-se levar em conta processos micro e macro, levando em conta a mulher concreta e suas amarras.
Márcia Xavier
Da Redação do Vermelho em Brasília
Fotos de Leonardo Brito